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Tradução do Epígrafo 3 (sinopse do malfadado Episódio 3 de Half-Life, escrita por Marc Laidlaw, adaptado para português por André Marques)

Caro Jogador

Espero que consiga receber esta mensagem. Já posso imaginar sua queixa: "Gordon Freeman, faz anos que nós não o vemos!" Bem, se você se importar de ouvir minhas desculpas, tenho várias, a mais saliente sendo que estive preso em outras dimensões e coisas do tipo, impossibilitado de lhes contatar por meios convencionais. Pelo menos até dezoito meses atrás, quando aconteceu uma mudança crítica ás minhas circustâncias, e acabei sendo transportado para estas orlas. Nesse meio-tempo, pensei ocasionalmente sobre a melhor maneira de descrever os anos passados para você, meus anos de silêncio. Primeiramente peço desculpas pela demora, e com isso feito, apresso-me em finalmente explicar (embora sucintamente, rapidamente e com muito pouco detalhe) os eventos subsequentes aos detalhados em minha última carta (o chamado Epígrafo 2).

Para começo de história, como você deve bem lembrar dos parágrafos finais de minha mensagem anterior, a morte de Eli Vance abalou a todos nós. A Resistência ficou traumatizada, incertos de quanto o nosso plano havia sido comprometido, e de se fazia qualquer sentido prossegir da maneira que havíamos pretendido. Apesar de tudo isso, depois de termos enterrado Eli, achamos a força necessária para seguir em frente. A filha de Eli, a corajosa Alyx Vance, acreditava fortemente que deveríamos prossegir com nosso plano inicial. Já tinhamos as coordenadas do Ártico, transmitidas até nós pela ex-assistente do Eli, a Dra. Judith Mossman, as quais acreditávamos conter a localização da embarcação de pesquisas perdida Borealis. Eli sempre manteve que a Borealis deveria ser destruída antes que pudesse cair nas mãos da Combine. Outros em nossa equipe discordaram, crendo que a Borealis escondia o segredo do sucesso da Revolução. Mas não fazia sentido decidir antes de encontrá-la. Portanto, imediatamente depois do funeral, Alyx e eu entramos num helicóptero e decolamos rumo ao Ártico; uma equipe de apoio substancial, composta primariamente de milícias, nos seguiria em outro transporte.

Ainda não sei ao certo o que fez nosso pequeno helicóptero tombar. As horas seguintes gastas atravessando o deserto congelado no meio de uma tempestade também são-me turvas, difíceis de lembrar e pouco definidas. A primeira coisa que lembro com clareza foi nossa chegada ás coordenadas fornecidas pela Dra. Mossman, aonde esperávamos encontrar a Borealis. Ao ínves disso nós encontramos uma grande instalação complexa e fortificada, mostrando todos os sinais de tecnologia da Combine. No meio desta, havia apenas um campo de gelo aberto. Da Borealis em si não havia sinal... pelo menos não inicialmente. Mas no decorrer da nossa infiltração á base da Combine, notamos um efeito auroral cíclico estranhamente coerente – como se um vasto holograma estivesse aparecendo e sumindo de vista. O fenômeno bizarro parecia apenas uma ilusão de ótica a princípio, mas Alyx e eu logo percebemos que o que nós estávamos vendo mesmo era a própria Borealis, materializando-se e desmaterializando-se em resposta aos aparatos de pesquisa da Combine. Os alienígenas haviam erguido esse edifício para pudessem se apoderar do navio e estudá-lo. O que a Dra. Mossman nos havia dado não eram coordenadas para o local onde o navio estava, mas sim de onde ele Iria estar. A embarcação estava oscilando para dentro e para fora da realidade, lentamente estabilizando-se, mas não havia garantia que ela iria permanecer em um só lugar por muito tempo. Decidimos entrar em posição para abordá-la no momento que ela ficasse totalmente sólida.

Mas nesse momento fomos apreendidos momentaneamente – não pela Combine, como temiámos, mas sim por capangas de nosso antigo algoz, o astuto e traiçoeiro Wallace Breen. Dr. Breen não estava na forma que o vimos antes- isto é, não estava morto. Em algum momento, a Combine havia guardado uma versão antiga de sua consciência, e depois de sua morte física, eles implantaram o backup de sua personalidade em algo que parecia um gastrópode enorme. O "Breenstrópode", apesar de ocupar uma posição de poder modesta na hierarquia da Combine, parecia nervoso e aterrorizado de mim em particular. Wallace não tinha conhecimento de como o Dr. Breen original havia morrido. Ele sabia apenas que eu fui o responsável. Portanto ele nos tratava com extrema cautela. Ainda assim, ele logo confessou (nunca capaz de ficar calado por muito tempo) que ele próprio era prisioneiro da Combine. Ele não derivava prazer de sua atual existência grotesca, e nos suplicou para que tirassemos sua vida. Alyx acreditava que uma morte rápida era mais que Wallace Breen merecia, mas pessoalmente, eu senti uma pitada de pena e compaixão. Sem a Alyx ver, eu possivelmente fiz algo para acelerar a morte dele antes de prosseguirmos. *

(Anotação do Tradutor: Acredito que esse momento trataria-se de uma decisão do jogador, onde você decidiria poupar a vida de Breen ou matá-lo. Por isso ele diz ter feito algo 'possivelmente'.)

Não muito longe de onde fomos apreendidos pelo Dr. Breen, encontramos a Judith Mossman presa em uma cela de interrogação. A atmosfera entre Judith e Alyx era tensa, como é de se imaginar. Alyx culpou Judith pela morte do pai dela… e Judith ficou devastada de ouvir a nóticia pela primeira vez. Ela tentou convencer Alyx que ela havia sido uma agente dupla servindo a Resistência por todo esse tempo, fazendo apenas o que Eli havia pedido, mesmo sabendo que arriscaria ser vista pelos seus colegas – por todos nós – como uma traidora. Eu fiquei convencido; A Alyx nem tanto. Mas do ponto de vista pragmático, nós dependiamos da Dra. Mossman; pois junto com as coordenadas da Borealis, ela possuía as chaves de resonância necessárias para que a embarcação se manifestasse totalmente no nosso plano da existência.

Depois de lidarmos com alguns soldados da Combine protegendo um edifício de pesquisas, a Dra. Mossman sintonizou a Borealis com as frequências precisas necessárias para deixá-la sólida temporiamente. Durante esse breve período, nós nos infiltramos no navio, com um número indeterminado de agentes da Combine em nossa cola. Mas foi justo naquele momento que o navio voltou a oscilar. Era tarde demais para o nosso apoio militar, que chegou e travou batalha com as forças da Combine no exato momento que começamos a ser transportados pelos universos, mais uma vez desconectados.

O que aconteceu depois é ainda mais difícil de explicar. Alyx Vance, Dra. Mossman e eu procuramos controlar o navio– sua fonte de energia, sua sala de controle, seu centro de navegação. A história do navio era confusa. Anos antes, durante a invasão, vários membros de uma equipe científica, trabalhando no casco de uma embarcação aportada no Centro de Pesquisas da Aperture Science em Michigan, haviam construído o que eles chamaram de Dispositivo de Arrebatamento. Se desse certo, ele iria emitir um campo de energia grande o bastante pra cercar o navio. Esse campo iria então transportar a si próprio instantaneamente para qualquer destino escolhido sem ter que transpassar o espaço entre os dois pontos. Não eram precisos portais de entrada ou saída, ou de qualquer outro aparelho; era totalmente independente. Infelizmente, o dispositivo nunca havia sido testado. Durante o decorrer da Guerra de Sete Horas, os alienígenas tomaram posse de nossos centros de pesquisa mais importantes. A equipe da Borealis, sem nenhum outro desejo senão impedir que o navio caísse nas mãos da Combine, agiu em desespero. eles ativaram o campo de energia e arremessaram a Borealis até o ponto mais distance que pudiam: O Ártico. O que eles não tinham percebido era que o Dispositivo de Arrebatamento viajava no tempo assim como o espaço. E tampouco era limitado a uma só época ou local. A Borealis, e o momento de sua ativação, estenderam-se ao longo do espaço-tempo, entre o agora-inexistente Lago Huron da Guerra de Sete Horas e o Ártico do presente; foi esticado como uma liga elástica, vibrando, exceto em certos pontos de sua extensão onde ainda podiam-se achar pontos inertes, como nos nós de uma corda de violão. Um destes pontos harmônicos foi onde nós abordamos, mas a corda estendia-se para frente e para trás, tanto no tempo como no espaço, e logo logo, nós mesmos estávamos sendo puxados em todas as direções.

O tempo ficou desnorteado. Olhando pela ponte de comando, podíamos ver o porto da Aperture Science no momento da teleportação, com as forças da Combine aproximando-se via terra, ar e mar. Ao mesmo tempo, víamos o Ártico desolado, onde nossos amigos estavam lutando para alcançar a Borealis translucente; e ainda mais, vislumbres de outros mundos, em algum canto do futuro talvez, ou quem sabe no passado. Alyx ficou convencida que estávamos vendo uma das áreas de preparação da Combine para invadir outros mundos - tais como o nosso. Simultaneamente disso, nós travamos uma batalha contínua ao longo do navio, perseguidos por tropas da Combine. Nos esforçávamos para entender nossa situação, e para concordar em nosso próximo plano. Seria possível alterar o rumo da Borealis? Deveríamos encalhá-la no Ártico, dando a nossos aliados a chance de estudá-la? Ou seria melhor destruí-la juntos com todos que estivessem a bordo, incluindo a nós mesmos? Era impossível manter um pensamento coerente, dados os ciclos temporais estupefadores e paradoxais, que passavam através do navio como bolhas. Achei que estava enlouquecendo, que todos nós estávamos, confrontando inúmeras versões de nós mesmos, naquela embarcação que era metade-navio fantasma, metade delírio insano.

No final, o que decidiu tudo foi uma escolha. A Dra. Mossman propôs, razoávelmente, que deveríamos salvar a Borealis e capturá-la para a resistência, para que nossos aliados inteligentes possam estudar e aprender a utilizar seu poder. Mas Alyx lembrou-me que ela havia jurado honrar o pedido de seu pai de destruir o navio. Ela bolou um plano para transportar a Borealis diretamente ao centro da base de invasões da Combine, e então fazê-la autodestruir-se. Judith e Alyx desentenderam-se. Judith imobilizou Alyx e levou a Borealis pra sua localização anterior no Ártico, preparando-se para desligar o Dispositivo e deixar o navio preso no gelo. Então eu ouvi um tiro, e Judith caiu morta. Alyx havia tomado a decisão por todos nós. Com Dra. Mossman morta, estavamos resignados ao ataque suicida. Soturnamente, Alyx e eu armamos a Borealis, criando um míssil espaço-temporal, e direcionamos-a ao coração do centro de comando da Combine.

Foi nesse momento que, como sem dúvida não irá surpreender a ninguém, uma certa figura sinistra apareceu, na forma daquele manipulador arrogante, G-Man. Pela primeira vez ele apareceu não para mim, mas sim pra Alyx. Alyx não tinha visto o homem misterioso desde que era pequena, mas ela o reconheceu instantaneamente. "Venha junto comigo agora, temos lugares pra ver e coisas a fazer," falou G-Man, e Alyx obedeceu. Ela seguiu o estranho homem acinzentado até sair da Borealis, sair da nossa realidade. Para mim, ele não abriu nenhuma porta conveniente; apenas um olhar conhecedor e uma risada caquética. Eu estava sozinho agora, pilotando a embarcação de pesquisas direto para um mundo controlado pela Combine. Uma imensa luz brilhava. Eu vi uma brilhosa esfera de Dyson passando por perto. Momentaneamente tive noção do poder imensurável da Combine, da tolice de resistir essa força inexpugnável. Eu vi tudo. Vi inclusive o jeito que a Borealis, nossa arma mais poderosa, seria vista como menos que um fósforo se apagando quando ela por fim explodisse. E o que restaria de mim seria ainda menos que isso.

Nesse instante, como você certamente já deve ter previsto, os Vortigaunts fizeram-se abrir as cortinas da realidade, estenderam suas mãos como fizeram em ocasiões anteriores, me resgataram, e me puseram de lado. Mal vi os fogos de artifício começarem.

E aqui estamos nós. Falei sobre o meu retorno a esta orla. Foi um caminho tortuoso para chegar a terras que eu antes conhecia, e sempre é surpreendende ver o quanto o terreno mudou. Já passou tanto tempo que poucos se lembram de mim, ou o que eu disse da última vez que escrevi, ou o que exatamente nós estávamos tentando conseguir. A esta altura, a resistência terá fracassado ou vencido, nada graças a mim. Velhos amigos calaram-se, ou foram lentamente esquecidos. Não conheço ou sei quem são os membros atuais, embora creio que o espírito da rebelião ainda persiste. Creio que você sabe melhor do que eu o rumo correto a ser tomado, então deixo isso nas suas mãos. Não espere mais correspondências minhas acerca disso, pois este será meu último Epígrafo.

(Anotação do Tradutor: Esse último parágrafo pode ser interpretado como comentário acerca do Projeto de Half-Life por Marc Laidlaw. Releia pensando que é ele falando e você entenderá.)

Com finalidade infinita,

Gordon Freeman, DSc