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\chapter{Autômatos Finitos}
\label{cha:automatos}
Neste capítulo estudaremos um modelo simples de computação, os autômatos finitos, e a classe das linguagens regulares.
\section{Linguagens Regulares}
\label{sec:linguagens-regulares}
Voltaremos nossa atenção um instante para conjuntos (classes) de linguagens, ou seja, conjuntos de conjuntos de strings.
\begin{example}
\begin{itemize}
\item[] $\L = \{A: A \subseteq \Sigma^*\}$ é o conjunto de todas as linguagens sobre $\Sigma$
\item[] $\emptyset$ é a classe vazia.
\item[] $\{\emptyset\}$ é a classe que contém apenas a linguagem vazia.
\item[] $\{\{\varepsilon\}, \emptyset\}$ é a classe que contém a linguagem vazia e a linguagem que possui apenas a string vazia.
\end{itemize}
\end{example}
Podemos aplicar operações sobre linguagens.
Como linguagens são conjuntos de strings, podemos tomar a {\em união} de duas linguagens:
\begin{displaymath}
A \cup B = \{x \in \Sigma^* : x \in A \textrm{ ou } y \in B\}
\end{displaymath}
\begin{example}
\begin{eqnarray*}
A & = & \{p_1p_2, p_1, p_2p_1\}\\
B & = & \{p_1p_1, p_3, p_1\}\\
A \cup B & = & \{p_1p_2, p_1, p_2p_1, p_1p_1, p_3\}
\end{eqnarray*}
\end{example}
Outra operação sobre linguagens é {\em concatenação} que consiste na concatenação de cada combinação de strings da linguagem:
\begin{displaymath}
A \circ B = \{x \cdot y \in \Sigma^* : x \in A \textrm{ e } x \in B\}
\end{displaymath}
\begin{example}
\begin{eqnarray*}
A & = & \{p_1p_2, p_1\}\\
B & = & \{p_1p_1, p_3\}\\
A \circ B & = & \{p_1p_2p_1p_1, p_1p_2p_3, p_1p_1p_1, p_1p_3\}\\
B \circ A & = & \{p_1p_1p_1p_2, p_1p_1p_1, p_3p_1p_2, p_3p_1\}\\
A \circ A & = & \{p_1p_2p_1p_2, p_1p_2p_1, p_1p_1p_2, p_1p_1\}
\end{eqnarray*}
\end{example}
Podemos, por fim, aplica a {\em estrela de Kleene} sobre uma linguagem para produzir todas as possíveis concatenações dos elementos:
\begin{displaymath}
A^* = \{x_1 \dots x_k \in \Sigma^* : x_i \in A \}
\end{displaymath}
\begin{example}
\begin{eqnarray*}
A & = & \{a,b\}\\
A^* & = & \{\varepsilon, a, b, aa, ab, bb, ba, aaa, aab, aba, abb, \dots\}
\end{eqnarray*}
\end{example}
Repare que a notação $\Sigma^*$ é consistente com a definição de estrela de Kleene.
As operações de união, concatenação e estrela de Kleene sobre linguagens são chamadas {\em operações regulares}.
\begin{example}
\begin{eqnarray*}
A & = & \{a\}\\
B & = & \{aa, b\}\\
A \circ B & = & \{aaa, ab\}\\
A \cup (A \circ B) & = & \{a, aaa, ab\}\\
(A \cup (A \circ B))^* & = & \{\varepsilon, a, aaa, ab, aa, aaaa, aab, aaaaaa, aaaab, \dots \}\\
\end{eqnarray*}
\end{example}
Uma classe de linguagens $\L$ é {\em fechada por união} quando temos que:
\begin{displaymath}
\textrm{se } A, B \in \L \textrm{ então } A \cup B \in \L
\end{displaymath}
Analogamente, uma classe de linguagens $\L$ é {\em fechada por concatenação} quando temos que:
\begin{displaymath}
\textrm{se } A, B \in \L \textrm{ então } A \circ B \in \L
\end{displaymath}
Por fim, $\L$ é {\em fechada pela estrela de Kleene} quando temos que:
\begin{displaymath}
\textrm{se } A \in \L \textrm{ então } A^* \in \L
\end{displaymath}
\begin{example}
\begin{eqnarray*}
\L_1 & = & \{\{a\}, \{b\}\} \\
\L_2 & = & \{\{a\}, \{b\}, \{a, b\}\}\\
\L_3 & = & \{\{a\}, \{aa\}, \{aaa\}, \{aaaa\} \dots\}\\
\L_4 & = & \{\{a\}, \{\varepsilon, a, aa, aaa, \dots\}\}\\
\end{eqnarray*}
$\L_1$ não é fechada por união, mas $\L_2$ é.
$\L_3$ é fechada por concatenação e $\L_4$ é fechada pela estrela de Kleene.
\end{example}
A classe das {\em linguagens regulares} é a menor classe de linguagens fechada por união, concatenação e estrela de Kleene que contém a seguinte linguagem:
\begin{displaymath}
\{\{a\} : a \in \Sigma\}
\end{displaymath}
Uma foram alternativa de definir linguagens regulares é por meio de expressões regulares.
Uma {\em expressão regular} pode ser definida da seguinte forma:
\begin{itemize}
\item[] se $r \in \Sigma$ então $r$ é uma expressão regular,
\item[] $\epsilon$ é uma expressão regular,
\item[] $\o$ é uma expressão regular,
\item[] se $r_1$ e $r_2$ são expressões regulares então $r_1 \abxcup r_2$ é uma expressão regular,
\item[] se $r_1$ e $r_2$ são expressões regulares então $r_1 r_2$ é uma expressão regular e
\item[] se $r$ é uma expressão regular então $r^\star$ é uma expressão regular.
\end{itemize}
\begin{example}
São expressões regulares:
\begin{itemize}
\item[] $\o$
\item[] $01$
\item[] $01^\star\abxcup 1$
\item[] $\epsilon \abxcup \o$
\end{itemize}
\end{example}
Denotaremos $L(r)$ a linguagem {\em expressa} pela expressão regular $r$:
\begin{eqnarray*}
L(a) & = & \{a\} \textrm{ para todo $a \in \Sigma$}\\
L(\epsilon) & = & \{\varepsilon\}\\
L(\o) & = & \emptyset\\
L(r_1 \abxcup r_2) & = & L(r_1) \cup L(r_2)\\
L(r_1r_2) & = & L(r_1) \circ L(r_2)\\
L(r^\star) & = & L(r)^*
\end{eqnarray*}
\begin{eqnarray*}
L(\o) & = & \emptyset\\
L(01) & = & L(0) \circ L(1) \\
& = & \{0\} \circ \{1\}\\
& = & \{01\}\\
L(01^\star\abxcup 1) & = & L(01^\star) \cup L(1) \\
& = & L(0) \circ L(1^\star) \cup \{1\} \\
& = & \{0\}\circ\{1\}^* \cup \{1\} \\
& = & \{1, 0, 01, 011, 0111 \dots\}\\
L(\epsilon \abxcup \o) & = & L(\epsilon) \cup L(\o) \\
& = & \{\varepsilon\} \cup \emptyset \\
& = & \{\varepsilon\}
\end{eqnarray*}
Podemos definir a classe das linguagens regulares como a classe das linguagens expressíveis por meio de expressões regulares.
\section{Autômatos Finitos Determinísticos}
\label{sec:afd}
Um {\em Autômato Finito Determinístico} (AFD) é um modelo de computação, o mais simples que estudaremos, adequado para representar sistemas computacionais simples como portas automáticas, elevadores e termostatos.
Um AFD é definido formalmente como uma 5-upla $M = \langle Q, \Sigma, \delta, q_0, F \rangle$ em que:
\begin{itemize}
\item[] $Q$ é um conjunto finito cujos elementos são chamados {\em estados},
\item[] $\Sigma$ é uma {\em alfabeto},
\item[] $\delta: Q \times \Sigma \to Q$ é uma função de estados e símbolos em estados chamada {\em função de transição},
\item[] $q_0 \in Q$ é um estado chamado {\em inicial} e
\item[] $F \subseteq Q$ é um conjunto de estados chamados {\em finais}.
\end{itemize}
Representaremos um AFD pictoricamente por meio de um {\em diagrama de estados}.
Nesse tipo de diagrama, cada estado $q \in Q$ é representado por uma circunferência:
\begin{center}
\begin{tikzpicture}[node distance=2cm,auto]
\node[state] (q) {$q$};
\end{tikzpicture}
\end{center}
Os estados finais $q \in F$ são representados por uma circunferência dupla:
\begin{center}
\begin{tikzpicture}[node distance=2cm,auto,>=latex]
\node[state, accepting] (q) {$q$};
\end{tikzpicture}
\end{center}
O estado inicial é destacado com uma seta:
\begin{center}
\begin{tikzpicture}[node distance=2cm,auto,>=latex]
\tikzset{initial text={}}
\node[state, initial] (q0) {$q_0$};
\end{tikzpicture}
\end{center}
A função de transição é representada por uma seta entre os estado com uma etiqueta:
\begin{center}
\begin{tikzpicture}[node distance=2cm,auto,>=latex]
\node[state] (q1) {$q_1$};
\node[state] (q2) at (3,0) {$q_2$};
\path[->, bend left = 30] (q1) edge node {$a$} (q2);
\end{tikzpicture}
\end{center}
\begin{displaymath}
\delta(q_1, a) = q_2
\end{displaymath}
\begin{example}
Considere o seguinte AFD:
\begin{eqnarray*}
M & = & \langle Q, \Sigma, \delta, q_0, F \rangle\\
Q & = & \{q_0, q_1, q_2\}\\
\Sigma & = & \{0,1\}\\
F & = & \{q_1\}\\
\end{eqnarray*}
Para simplificar, normalmente escreveremos a função $\delta$ como uma tabela:
\begin{center}
\begin{tabular}{c|cc}
$\delta$ & $0$ & $1$ \\
\hline
$q_0$ & $q_0$ & $q_1$\\
$q_1$ & $q_2$ & $q_1$\\
$q_2$ & $q_1$ & $q_1$\\
\end{tabular}
\end{center}
Essa tabela indica que:
\begin{eqnarray*}
\delta(q_0, 0) & = & q_0\\
\delta(q_0, 1) & = & q_1\\
\delta(q_1, 0) & = & q_2\\
\delta(q_1, 1) & = & q_1\\
\delta(q_2, 0) & = & q_1\\
\delta(q_2, 1) & = & q_1
\end{eqnarray*}
O seguinte diagrama de estados representa esse AFD $M$:
\begin{center}
\begin{tikzpicture}[node distance=2cm,auto,>=latex,initial text=]
\tikzset{initial text={}}
\node[state, initial] (q0) {$q_0$};
\node[state, accepting] (q1) at (3,0) {$q_1$};
\node[state] (q2) at (6,0) {$q_2$};
\path[->] (q0) edge[loop above] node {$0$} (q0);
\path[->] (q1) edge[loop above] node {$1$} (q1);
\path[->] (q0) edge node {$1$} (q1);
\path[->, bend left = 30] (q1) edge node {$0$} (q2);
\path[->, bend left = 30] (q2) edge node {$0, 1$} (q1);
\end{tikzpicture}
\end{center}
\end{example}
Dizemos que um AFD $M = \langle Q, \Sigma, \delta, q_o, F \rangle$ {\em aceita}, ou {\em reconhece}, uma string $\omega = a_0 a_1 \dots a_n$ se existe uma sequência de estadps $r_0, r_1, \dots, r_m$ tal que:
\begin{enumerate}
\item $r_0 = q_0$
\item $\delta(r_i, a_{i+1}) = r_{i+1}$
\item $r_m \in F$
\end{enumerate}
Dizemos que $M$ {\em consome} a string conforme passa de um estado para outro.
Assim, começando pelo estado inicial, a cada passo a função de transição indica qual o próximo estado conforme consome um símbolo da string.
Ao final do processo, quando todos os símbolos foram consumidos, a string é aceita se o estado atual for final.
Escrevemos $L(M)$ para a linguagem das strings aceitas por $M$.
\begin{displaymath}
L(M) = \{\omega \in \Sigma^* : M \textrm{ aceita } \omega\}
\end{displaymath}
\begin{example}
O AFD $M$ do exemplo anterior aceita a string $1101$.
\begin{enumerate}
\item $r_0 = q_0$
\item $r_1 = q_1$ pois $\delta(q_0, 1) = q_1$
\item $r_2 = q_1$ pois $\delta(q_1, 1) = q_1$
\item $r_3 = q_2$ pois $\delta(q_1, 0) = q_2$
\item $r_4 = q_1$ pois $\delta(q_2, 1) = q_1$
\item a string é aceita, pois $r_4 = q_1 \in F$
\end{enumerate}
\end{example}
\begin{example}
\begin{displaymath}
M_1 = \langle \{q_0, q_1\}, \{0,1\}, \delta, q_0, \{q_1\}\rangle
\end{displaymath}
\begin{center}
\begin{tabular}{c|cc}
$\delta$ & $0$ & $1$ \\
\hline
$q_0$ & $q_0$ & $q_1$\\
$q_1$ & $q_0$ & $q_1$\\
\end{tabular}
\end{center}
\begin{center}
\begin{tikzpicture}[node distance=2cm,auto,>=latex,initial text=]
\tikzset{initial text={}}
\node[state, initial] (q0) {$q_0$};
\node[state, accepting] (q1) at (3,0) {$q_1$};
\path[->] (q0) edge[loop above] node {$0$} (q0);
\path[->] (q1) edge[loop above] node {$1$} (q1);
\path[->, bend left = 30] (q0) edge node {$1$} (q1);
\path[->, bend left = 30] (q1) edge node {$0$} (q0);
\end{tikzpicture}
\end{center}
\begin{displaymath}
L(M_1) = \{\omega \in \{0,1\}^* : \omega \textrm{ termina com } 1\}
\end{displaymath}
\end{example}
\begin{example}
\begin{displaymath}
M_2 = \langle \{q_0, q_1\}, \{0,1\}, \delta, q_0, \{q_0\}\rangle
\end{displaymath}
\begin{center}
\begin{tabular}{c|cc}
$\delta$ & $0$ & $1$ \\
\hline
$q_0$ & $q_0$ & $q_1$\\
$q_1$ & $q_0$ & $q_1$\\
\end{tabular}
\end{center}
\begin{center}
\begin{tikzpicture}[node distance=2cm,auto,>=latex,initial text=]
\tikzset{initial text={}}
\node[state, initial, accepting] (q0) {$q_0$};
\node[state] (q1) at (3,0) {$q_1$};
\path[->] (q0) edge[loop above] node {$0$} (q0);
\path[->] (q1) edge[loop above] node {$1$} (q1);
\path[->, bend left = 30] (q0) edge node {$1$} (q1);
\path[->, bend left = 30] (q1) edge node {$0$} (q0);
\end{tikzpicture}
\end{center}
\begin{displaymath}
L(M_2) = \{\omega \in \{0,1\}^* : \omega = \varepsilon \textrm{ ou } \omega \textrm{ termina com } 0\}
\end{displaymath}
\end{example}
\begin{example}
\begin{displaymath}
M_3 = \langle \{s, q_1, q_2, r_1, r_2\}, \{a,b\}, \delta, s, \{q_1, r_1\}\rangle
\end{displaymath}
\begin{center}
\begin{tabular}{c|cc}
$\delta$ & $a$ & $b$ \\
\hline
$s$ & $q_1$ & $r_1$\\
$q_1$ & $q_1$ & $q_2$\\
$q_2$ & $q_1$ & $q_2$\\
$r_1$ & $r_2$ & $r_1$\\
$r_2$ & $r_2$ & $r_1$\\
\end{tabular}
\end{center}
\begin{center}
\begin{tikzpicture}[node distance=2cm,auto,>=latex,initial text=]
\tikzset{initial text={}}
\node[state, initial] (s) {$s$};
\node[state, accepting] (q1) at (2,1.5) {$q_1$};
\node[state] (q2) at (5,1.5) {$q_2$};
\node[state, accepting] (r1) at (2,-1.5) {$r_1$};
\node[state] (r2) at (5,-1.5) {$r_2$};
\path[->] (q1) edge[loop above] node {$a$} (q1);
\path[->] (q2) edge[loop above] node {$b$} (q2);
\path[->] (r1) edge[loop below] node {$b$} (r1);
\path[->] (r2) edge[loop below] node {$a$} (r2);
\path[->, bend left = 30] (q1) edge node {$b$} (q2);
\path[->, bend left = 30] (q2) edge node {$a$} (q1);
\path[->, bend left = 30] (r1) edge node {$a$} (r2);
\path[->, bend left = 30] (r2) edge node {$b$} (r1);
\path[->] (s) edge node {$a$} (q1);
\path[->] (s) edge node {$b$} (r1);
\end{tikzpicture}
\end{center}
\begin{displaymath}
L(M_3) = \{\omega \in \{a,b\}^* : \omega = \textrm{ começa e termina com o mesmo símbolo}\}
\end{displaymath}
\end{example}
\begin{example}
\begin{displaymath}
M_4 = \langle \{q_0, q_1, q_2, q_3\}, \{0,1\}, \delta, q_0, \{q_3\}\rangle
\end{displaymath}
\begin{center}
\begin{tabular}{c|cc}
$\delta$ & $0$ & $1$ \\
\hline
$q_0$ & $q_1$ & $q_0$\\
$q_1$ & $q_2$ & $q_0$\\
$q_2$ & $q_2$ & $q_3$\\
$q_3$ & $q_3$ & $q_3$\\
\end{tabular}
\end{center}
\begin{center}
\begin{tikzpicture}[node distance=2cm,auto,>=latex,initial text=]
\tikzset{initial text={}}
\node[state, initial] (q0) {$q_0$};
\node[state] (q1) at (3,0) {$q_1$};
\node[state] (q2) at (6,0) {$q_2$};
\node[state, accepting] (q3) at (9,0) {$q_3$};
\path[->] (q0) edge[loop above] node {$1$} (q0);
\path[->] (q2) edge[loop above] node {$0$} (q2);
\path[->] (q3) edge[loop above] node {$0,1$} (q3);
\path[->, bend left = 30] (q0) edge node {$0$} (q1);
\path[->, bend left = 30] (q1) edge node {$1$} (q0);
\path[->] (q1) edge node {$0$} (q2);
\path[->] (q2) edge node {$1$} (q3);
\end{tikzpicture}
\end{center}
\begin{displaymath}
L(M_4) = \{\omega \in \{0,1\}^* : \omega \textrm{ contém a substring } 001 \}
\end{displaymath}
\end{example}
\begin{example}
\begin{displaymath}
M_5 = \langle \{q_0, q_1, q_2, q_3\}, \{a,b\}, \delta, q_0, \{q_2\}\rangle
\end{displaymath}
\begin{center}
\begin{tabular}{c|cc}
$\delta$ & $a$ & $b$ \\
\hline
$q_0$ & $q_1$ & $q_0$\\
$q_1$ & $q_2$ & $q_1$\\
$q_2$ & $q_3$ & $q_2$\\
$q_3$ & $q_3$ & $q_3$\\
\end{tabular}
\end{center}
\begin{center}
\begin{tikzpicture}[node distance=2cm,auto,>=latex,initial text=]
\tikzset{initial text={}}
\node[state, initial] (q0) {$q_0$};
\node[state] (q1) at (3,0) {$q_1$};
\node[state, accepting] (q2) at (6,0) {$q_2$};
\node[state] (q3) at (9,0) {$q_3$};
\path[->] (q0) edge[loop above] node {$b$} (q0);
\path[->] (q1) edge[loop above] node {$b$} (q1);
\path[->] (q2) edge[loop above] node {$b$} (q2);
\path[->] (q3) edge[loop above] node {$a,b$} (q3);
\path[->] (q0) edge node {$a$} (q1);
\path[->] (q1) edge node {$a$} (q2);
\path[->] (q2) edge node {$a$} (q3);
\end{tikzpicture}
\end{center}
\begin{displaymath}
L(M_5) = \{\omega \in \{a,b\}^* : \omega \textrm{ contém exatamente dois } a \}
\end{displaymath}
\end{example}
\begin{example}
\begin{displaymath}
M_6 = \langle \{q_0, q_1, q_2\}, \{a,b\}, \delta, q_0, \{q_2\}\rangle
\end{displaymath}
\begin{center}
\begin{tabular}{c|cc}
$\delta$ & $a$ & $b$ \\
\hline
$q_0$ & $q_0$ & $q_1$\\
$q_1$ & $q_1$ & $q_2$\\
$q_2$ & $q_2$ & $q_2$\\
\end{tabular}
\end{center}
\begin{center}
\begin{tikzpicture}[node distance=2cm,auto,>=latex,initial text=]
\tikzset{initial text={}}
\node[state, initial] (q0) {$q_0$};
\node[state] (q1) at (3,0) {$q_1$};
\node[state, accepting] (q2) at (6,0) {$q_2$};
\path[->] (q0) edge[loop above] node {$a$} (q0);
\path[->] (q1) edge[loop above] node {$a$} (q1);
\path[->] (q2) edge[loop above] node {$a,b$} (q2);
\path[->] (q0) edge node {$b$} (q1);
\path[->] (q1) edge node {$b$} (q2);
\end{tikzpicture}
\end{center}
\begin{displaymath}
L(M_6) = \{\omega \in \{a,b\}^* : \omega \textrm{ contém pelo menos dois } b \}
\end{displaymath}
\end{example}
\section{Autômatos Finitos Não-Determinísticos}
\label{sec:afn}
Um AFD ao ler um símbolo $a$ em um estado $q$ tem uma única possíbilidade de próximo estado (por isso determinístico).
Na definição isso é garantido pelo fato de $\delta$ ser uma função.
No diagrama de estados isso se reflete no fato de que de cada estado sai uma e uma única seta com cada símbolo do alfabeto.
Os {\em autômatos finitos não-determinísticos} (AFN) extendem os determinísticos em dois aspectos:
\begin{enumerate}
\item ao ler um símbolo em um estado o AFN possui um conjunto (possivelmente vazio) de possiblidades de próximos estados e
\item é possível mudar de estado sem consumir nenhum símbolo da entrada.
\end{enumerate}
Definimos formalmente um AFN é também definido como uma 5-upla $N = \langle Q, \Sigma, \Delta, q_0, F \rangle$, mas agora $\Delta: Q \times (\Sigma \cup \{\varepsilon\}) \to 2^Q$.
Ou seja, a entrada da função pode ser a string vazia $\epsilon$ e sua saída é um conjunto de estados.
Representamos o diagrama de estados da mesma forma que fizemos com os AFDs, mas agora é possível que de um mesmo estado partam mais de uma seta com o mesmo síbolo, existem setas com $\varepsilon$ e pode haver estados em que não haja seta com determinado símbolo.
Uma string é {\em aceita} por um AFN se existir {\em alguma} possibilidade de execução do autômato que consuma toda string e termine em um estado final.
Formalmente, $N = \langle Q, \Sigma, \Delta, q_0, F \rangle$ aceita uma string $\omega = y_1 \dots y_n$ onde $y_i \in \Sigma \cup \{\varepsilon\}$ se {\em existe} uma sequência de estados $r_0, \dots, r_m$ tal que:
\begin{enumerate}
\item $r_0 = q_0$
\item $r_{i+1} \in \Delta(r_i, y_{i+1})$
\item $r_m \in F$
\end{enumerate}
Novamente, escrevemos $L(N)$ para a linguagem formada pelas strings aceitas por $N$.
\begin{example}
\begin{displaymath}
N_1 = \langle \{q_0, q_1, q_2, q_3\}, \{0,1\}, \Delta, q_0, \{q_3\}\rangle
\end{displaymath}
\begin{center}
\begin{tabular}{c|ccc}
$\Delta$ & $0$ & $1$ & $\varepsilon$\\
\hline
$q_0$ & $\{q_0\}$ & $\{q_0,q_1\}$ & $\emptyset$\\
$q_1$ & $\{q_2\}$ & $\emptyset$ & $\{q_2\}$\\
$q_2$ & $\emptyset$ & $\{q_3\}$ & $\emptyset$\\
$q_3$ & $\{q_3\}$ & $\{q_3\}$ & $\emptyset$\\
\end{tabular}
\end{center}
\begin{center}
\begin{tikzpicture}[node distance=2cm,auto,>=latex,initial text=]
\tikzset{initial text={}}
\node[state, initial] (q0) {$q_0$};
\node[state] (q1) at (3,0) {$q_1$};
\node[state] (q2) at (6,0) {$q_2$};
\node[state, accepting] (q3) at (9,0) {$q_3$};
\path[->] (q0) edge[loop above] node {$0,1$} (q0);
\path[->] (q3) edge[loop above] node {$0,1$} (q3);
\path[->] (q0) edge node {$1$} (q1);
\path[->] (q1) edge node {$0, \varepsilon$} (q2);
\path[->] (q2) edge node {$1$} (q3);
\end{tikzpicture}
\end{center}
Vamos simular as possíveis execuções desse autômato para a entrada $010110$:
\begin{center}
\begin{tikzpicture}[level distance=2cm,sibling distance=.5cm,
edge from parent path={(\tikzparentnode) -> (\tikzchildnode)}, >=latex]
\Tree[.$q_0$
\edge[->]node[auto=right]{$0$}; [.$q_0$
\edge[->]node[auto=right]{$1$}; [.$q_0$
\edge[->]node[auto=right]{$0$}; [.$q_0$
\edge[->]node[auto=right]{$1$}; [.$q_0$
\edge[->]node[auto=right]{$1$}; [.$q_0$
\edge[->]node[auto=right]{$0$}; [.\node[red]{$q_0$}; ]
]
\edge[->]node[auto=left]{$1$}; [.$q_1$
\edge[->]node[auto=right]{$0$}; [.\node[red]{$q_2$}; ]
\edge[->]node[auto=left]{$\varepsilon$}; [.\node[red]{$q_2$}; ]
]
]
\edge[->]node[auto=left]{$1$}; [.$q_1$
\edge[->]node[auto=right]{$\varepsilon$}; [.$q_2$
\edge[->]node[auto=right]{$1$}; [.$q_3$
\edge[->]node[auto=right]{$0$}; [.\node[blue]{$q_3$}; ]
]
]
]
]
]
\edge[->]node[auto=left]{$1$}; [.$q_1$
\edge[->]node[auto=right]{$0$}; [.$q_2$
\edge[->]node[auto=right]{$1$}; [.$q_3$
\edge[->]node[auto=right]{$1$}; [.$q_3$
\edge[->]node[auto=right]{$0$}; [.\node[blue]{$q_3$}; ]
]
]
]
\edge[->]node[auto=left]{$\varepsilon$}; [.\node[red]{$q_2$}; ]
]
]
]
\end{tikzpicture}
\end{center}
Cada ramo dessa árvore representa uma possível execução do autômato para a entrada dada.
O autômato para apenas quando toda a entrada foi consumida.
Note que nos três ramos mais a esquerda quando isso ocorre não estamos em um estado final, mas nos dois ramos seguintes sim.
Basta que exita um ramo, uma possibilidade de execução, para que a string seja aceita.
Assim, neste caso a string de fato é aceita, basta escolher um caminha que termine em um estado final.
Por exemplo: $q_0, q_0, q_1, q_1, q_2, q_3, q_3, q_3$ satisfaz a definição para a string $0101\varepsilon 10 = 010110$.
\begin{displaymath}
L(N_1) = \{\omega \in \{0,1\}^* : \omega \textrm{ contém 101 ou 11 como substring}\}
\end{displaymath}
\end{example}
\begin{example}
\begin{displaymath}
N_2 = \langle \{q_0, q_1, q_2, q_3\}, \{0,1\}, \Delta, q_0, \{q_3\}\rangle
\end{displaymath}
\begin{center}
\begin{tabular}{c|ccc}
$\Delta$ & $0$ & $1$ & $\varepsilon$\\
\hline
$q_0$ & $\{q_0\}$ & $\{q_0,q_1\}$ & $\emptyset$\\
$q_1$ & $\{q_2\}$ & $\{q_2\}$ & $\emptyset$\\
$q_2$ & $\{q_3\}$ & $\{q_3\}$ & $\emptyset$\\
$q_3$ & $\emptyset$ & $\emptyset$ & $\emptyset$\\
\end{tabular}
\end{center}
\begin{center}
\begin{tikzpicture}[node distance=2cm,auto,>=latex,initial text=]
\tikzset{initial text={}}
\node[state, initial] (q0) {$q_0$};
\node[state] (q1) at (3,0) {$q_1$};
\node[state] (q2) at (6,0) {$q_2$};
\node[state, accepting] (q3) at (9,0) {$q_3$};
\path[->] (q0) edge[loop above] node {$0,1$} (q0);
\path[->] (q0) edge node {$1$} (q1);
\path[->] (q1) edge node {$0, 1$} (q2);
\path[->] (q2) edge node {$0, 1$} (q3);
\end{tikzpicture}
\end{center}
\begin{displaymath}
L(N_2) = \{\omega \in \{0,1\}^* : \omega \textrm{ contém 1 na antepenúltima posição}\}
\end{displaymath}
\end{example}
\begin{example}
A partir daqui vamos apresentar os autômatos apenas por seu diagrama.
O seguinte é o diagrama de $N_3$:
\begin{center}
\begin{tikzpicture}[node distance=2cm,auto,>=latex,initial text=]
\tikzset{initial text={}}
\node[state, initial] (q0) {$q_0$};
\node[state] (q1) at (3,0) {$q_1$};
\node[state] (q2) at (6,0) {$q_2$};
\node[state, accepting] (q3) at (9,0) {$q_3$};
\path[->] (q0) edge[loop above] node {$0,1$} (q0);
\path[->] (q0) edge node {$0$} (q1);
\path[->] (q1) edge node {$1$} (q2);
\path[->] (q2) edge node {$0$} (q3);
\end{tikzpicture}
\end{center}
\begin{displaymath}
L(N_3) = \{\omega \in \{0,1\}^* : |\omega| \textrm{ termina com } 010\}
\end{displaymath}
\end{example}
\begin{example}
O seguinte é o diagrama de $N_4$:
\begin{center}
\begin{tikzpicture}[node distance=2cm,auto,>=latex,initial text=]
\tikzset{initial text={}}
\node[state, initial] (q0) {$q_0$};
\node[state, accepting] (q1) at (2,1) {$q_1$};
\node[state] (q2) at (6,1) {$q_2$};
\node[state, accepting] (q3) at (2,-1) {$q_3$};
\node[state] (q4) at (4,-3) {$q_4$};
\node[state] (q5) at (6,-1) {$q_5$};
\path[->] (q0) edge node {$\varepsilon$} (q1);
\path[->] (q0) edge node {$\varepsilon$} (q3);
\path[->, bend left = 30] (q1) edge node {$0$} (q2);
\path[->, bend left = 30] (q2) edge node {$0$} (q1);
\path[->] (q3) edge node {$0$} (q4);
\path[->] (q4) edge node {$0$} (q5);
\path[->] (q5) edge node[above] {$0$} (q3);
\end{tikzpicture}
\end{center}
\begin{displaymath}
L(N_4) = \{\omega \in \{0\}^* : |\omega| \textrm{ é múltiplo de 2 ou de 3}\}
\end{displaymath}
\end{example}
\begin{example}
O seguinte é o diagrama de $N_5$:
\begin{center}
\begin{tikzpicture}[node distance=2cm,auto,>=latex,initial text=]
\tikzset{initial text={}}
\node[state, initial] (q1) {$q_1$};
\node[state] (q2) at (2,1.5) {$q_2$};
\node[state, accepting] (q3) at (5,1.5) {$q_3$};
\node[state] (q4) at (2,-1.5) {$q_4$};
\node[state, accepting] (q5) at (5,-1.5) {$q_5$};
\path[->] (q2) edge[loop above] node {$0,1$} (q2);
\path[->] (q3) edge[loop above] node {$0,1$} (q3);
\path[->] (q4) edge[loop above] node {$1$} (q4);
\path[->] (q5) edge[loop above] node {$1$} (q5);
\path[->] (q1) edge node {$\varepsilon$} (q2);
\path[->] (q1) edge node {$\varepsilon$} (q4);
\path[->] (q2) edge node {$1$} (q3);
\path[->, bend left = 30] (q4) edge node {$0$} (q5);
\path[->, bend left = 30] (q5) edge node {$0$} (q4);
\end{tikzpicture}
\end{center}
\begin{displaymath}
L(N_5) = \{\omega \in \{0,1\}^* : \omega \textrm{ contém 1 ou um número ímpar de 0s}\}
\end{displaymath}
\end{example}
\begin{example}
O seguinte é o diagrama de $N_6$:
\begin{center}
\begin{tikzpicture}[node distance=2cm,auto,>=latex,initial text=]
\tikzset{initial text={}}
\node[state, initial] (q0) {$q_0$};
\node[state] (q1) at (3,0) {$q_1$};
\node[state, accepting] (q2) at (6,0) {$q_2$};
\path[->] (q0) edge[loop above] node {$0$} (q0);
\path[->] (q1) edge[loop above] node {$1$} (q1);
\path[->] (q2) edge[loop above] node {$0$} (q2);
\path[->] (q0) edge node {$1$} (q1);
\path[->] (q1) edge node {$\varepsilon$} (q2);
\end{tikzpicture}
\end{center}
\begin{displaymath}
L(N_6) = L(0^\star11^\star0^\star)
\end{displaymath}
\end{example}
\section{AFD $\equiv$ AFN}
\label{sec:afn-afd}
Vimos nas últimas seções dois modelos computacionais.
O primeiro é mais próximo da descrição de dispositivos simples, mas sua descrição em termos de diagramas possui diversas limitações.
O segundo modelo é mais flexível e mais fácil de descrever pictoricamente.
A pergunta que procuraremos responder nessa seção é se algum desses modelos é mais expressivo que o outro.
Ou seja, será que algum deles é capaz de resolver problemas, reconhecer linguagens, que o outro não consegue.
A resposta será negativa.
De fato, ambos os modelos são equivalentes em um sentido bastante preciso.
Comecemos então com essa definição.
Dois autômatos $M_1$ e $M_2$ são ditos {\em equivalentes} (escrevemos $M_1 \sim M_2$) se reconhecem a mesma linguagem, ou seja, se $L(M_1) = L(M_2)$.
\medskip
\refstepcounter{theorem}
{\bf Exemplo~\thetheorem:}
%\begin{example}
\begin{multicols}{2}
\begin{displaymath}
M_1 = \langle \{q_0, q_1\}, \{a\}, \delta, q_0, \{q_0, q_1\}\rangle
\end{displaymath}
\begin{center}
\begin{tabular}{c|cc}
$\delta$ & $a$ \\
\hline
$q_0$ & $q_1$ \\
$q_1$ & $q_0$ \\
\end{tabular}
\end{center}
\begin{center}
\begin{tikzpicture}[node distance=2cm,auto,>=latex,initial text=]
\tikzset{initial text={}}
\node[state, initial, accepting] (q0) {$q_0$};
\node[state, accepting] (q1) at (3,0) {$q_1$};
\path[->, bend left = 30] (q0) edge node {$a$} (q1);
\path[->, bend left = 30] (q1) edge node {$a$} (q0);
\end{tikzpicture}
\end{center}
\begin{displaymath}
L(M_1) = L(a^\star)
\end{displaymath}
\columnbreak
\begin{displaymath}
M_2 = \langle \{q_0\}, \{a\}, \delta, q_0, \{q_0\}\rangle
\end{displaymath}
\begin{center}
\begin{tabular}{c|cc}
$\delta$ & $a$ \\
\hline
$q_0$ & $q_0$ \\
\end{tabular}
\end{center}
\begin{center}
\begin{tikzpicture}[node distance=2cm,auto,>=latex,initial text=]
\tikzset{initial text={}}
\node[state, initial, accepting] (q0) {$q_0$};
\path[->] (q0) edge[loop above] node {$a$} (q0);
\end{tikzpicture}
\end{center}
\begin{displaymath}
L(M_2) = L(a^\star)
\end{displaymath}
\end{multicols}
\begin{displaymath}
M_1 \sim M_2
\end{displaymath}
%\end{example}
\medskip
Primeiramente devemos mostrar que AFNs são uma extensão dos AFDs.
Essa parte coincide com nossa intuição uma vez que todo diagrama de um AFD é também um diagrama para um AFN (o contrário não vale!).
Vamos formalizar essa ideia no seguinte teorema:
\begin{theorem}
Se $M$ é um AFD então existe um AFN $N$ tal que $M \sim N$
\end{theorem}
\begin{proof}
Seja $M = \langle Q, \Sigma, \delta, q_o, F \rangle$ um AFD qualquer.
Considere o AFN $N = \langle Q, \Sigma, \Delta, q_0, F \rangle$ em que:
\begin{displaymath}
\Delta(a, q) = \left\{
\begin{array}{cl}
\{q'\} & \textrm{se $a \in \Sigma$ e } \delta(a,q) = q'\\
\emptyset & \textrm{se } a = \varepsilon
\end{array} \right.
\end{displaymath}
Note que os diagramas de $M$ e de $N$ são idênticos e segue trivialmente que $M \sim N$
\end{proof}
A demonstração da outra equivalência exige mais cuidado e faremos em duas partes.
Primeiro vamos supor que não fosse permitido mudar de estado sem consumir símbolos em um AFN.
Ou seja, suponhamos que não seja permitido usar $\varepsilon$ nas setas no diagrama de estados.
Vamos mostrar que é possível construir um AFD equivalente a esse AFN.
A ideia da construção é que cada estado no AFD simula um conjunto de estados no AFN.
Conforme consumimos a string nesse AFD o estado atual representa o conjunto de todos os estados possíveis no AFN ao consumir os mesmos símbolos.
\begin{lemma}
Seja $N$ um AFN em que não é permitido mudar de estados sem consumir símbolos, então existe um AFD $M$ tal que $N \sim M$.
\end{lemma}
\begin{proof}
Não faremos a demonstração completa, apenas apresentaremos a construção e posteriormente mostraremos alguns exemplos.
Seja $N = \langle Q, \Sigma, \Delta, q_0, F \rangle$, construiremos $M = \langle Q', \Sigma', \delta, q_0', F' \rangle$ da seguinte forma:
\begin{enumerate}
\item $Q' = 2^Q$
\item $\Sigma' = \Sigma$
\item $q_0' = \{q_0 \}$
\item $F' = \{R \in Q' : R \cap F \neq \emptyset\}$
\item $\delta(R, a) = \bigcup_{r \in R} \Delta(r,a)$
\end{enumerate}
\end{proof}
\begin{example}
\begin{displaymath}
N_1 = \langle \{1,2\}, \{a,b\}, \Delta, 1, \{1\}\rangle
\end{displaymath}
\begin{center}
\begin{tabular}{c|cc}
$\Delta$ & $a$ & $b$\\
\hline
$1$ & $\emptyset$ & $\{2\}$\\
$2$ & $\{1,2\}$ & $\{1\}$\\
\end{tabular}
\end{center}
\begin{center}
\begin{tikzpicture}[node distance=2cm,auto,>=latex,initial text=]
\tikzset{initial text={}}
\node[state, initial, accepting] (1) {$1$};
\node[state] (2) at (3,0) {$2$};
\path[->, bend left = 30] (1) edge node {$b$} (2);
\path[->, bend left = 30] (2) edge node {$a,b$} (1);
\path[->] (2) edge[loop above] node {$a$} (1);
\end{tikzpicture}
\end{center}
Seguindo a construção que vimos no teorema anterior:
\begin{displaymath}
M_1 = \langle \{\emptyset, \{1\}, \{2\}, \{1,2\}\}, \{a,b\}, \delta, \{1\}, \{\{1\}, \{1,2\}\}\rangle
\end{displaymath}
\begin{center}
\begin{tabular}{c|cc}
$\delta$ & $a$ & $b$\\
\hline
$\emptyset$ & $\emptyset$ & $\emptyset$ \\
$\{1\}$ & $\emptyset$ & $\{2\}$\\
$\{2\}$ & $\{1,2\}$ & $\{1\}$\\
$\{1,2\}$ & $\{1,2\}$ & $\{1,2\}$\\
\end{tabular}
\end{center}
\begin{center}
\begin{tikzpicture}[node distance=2cm,auto,>=latex,initial text=]
\tikzset{initial text={}}
\node[state, initial, accepting] (1) {$\{1\}$};
\node[state] (2) at (3,0) {$\{2\}$};
\node[state, accepting] (12) at (3, -2){$\{1, 2\}$};
\node[state] (0) at (0, -2){$\emptyset$};
\path[->] (1) edge node {$a$} (0);
\path[->, bend left = 30] (1) edge node {$b$} (2);
\path[->] (2) edge node {$a$} (12);
\path[->, bend left = 30] (2) edge node {$b$} (1);
\path[->] (0) edge[loop below] node {$a,b$} (0);
\path[->] (12) edge[loop below] node {$a,b$} (12);
\end{tikzpicture}
\end{center}
Para terminar vamos simular nos dois a leitura da string $baab$:
\begin{multicols}{2}
\begin{center}
\begin{tikzpicture}[level distance=2cm,sibling distance=.5cm,
edge from parent path={(\tikzparentnode) -> (\tikzchildnode)}, >=latex]
\Tree[.$1$
\edge[->]node[auto=right]{$b$}; [.$2$
\edge[->]node[auto=right]{$a$}; [.\node[red]{$1$}; ]
\edge[->]node[auto=left]{$a$}; [.$2$
\edge[->]node[auto=right]{$a$}; [.$1$
\edge[->]node[auto=right]{$b$}; [.\node[red]{$2$}; ]
]
\edge[->]node[auto=left]{$a$}; [.$2$
\edge[->]node[auto=left]{$b$}; [.\node[blue]{$1$}; ]
]
]
]
]
\end{tikzpicture}
\end{center}
\columnbreak
\begin{center}
\begin{tikzpicture}[level distance=2cm,sibling distance=.5cm,
edge from parent path={(\tikzparentnode) -> (\tikzchildnode)}, >=latex]
\Tree[.$\{1\}$
\edge[->]node[auto=right]{$b$}; [.$\{2\}$
\edge[->]node[auto=right]{$a$}; [.$\{1,2\}$
\edge[->]node[auto=right]{$a$}; [.$\{1,2\}$
\edge[->]node[auto=right]{$b$}; [.\node[blue]{$\{1,2\}$}; ]
]
]
]
]
\end{tikzpicture}
\end{center}
\end{multicols}
\end{example}
Para completar nossa prova precisamos lidar com as setas rotuladas por $\varepsilon$.
O que faremos nesse caso será incluir no estado atual todos os estados que conseguimos alcançar sem precisar consumir símbolos.
\begin{theorem}
Para todo AFN $N$ existe um AFD $M$ tal que $N \sim M$.
\end{theorem}
\begin{proof}
Sejam $N$ e $M$ como definidos na demonstração do lema anterior
Considere a seguinte função $E: Q' \to Q'$:
\begin{displaymath}
E(R) = \{q \in Q: \exists q' \in R(q' \stackrel{\varepsilon}{\rightsquigarrow} q) \}
\end{displaymath}
Ou seja, existe um caminho de algum $q' \in R$ até $q$ passando apenas por setas com etiqueta $\varepsilon$.
Vamos agora atualizar a definição de $M$ em dois pontos:
\begin{enumerate}
\item[3'.] $q_0 = E(\{q_0\})$
\item[5'.] $\delta(R,a) = \bigcup_{r \in R} E(\Delta(r,a))$